Caboclo Boiadeiro...
São espíritos de pessoas, que em vida
trabalharam com o gado, em fazendas por todo o Brasil, estas
entidades trabalham da mesma forma que os Caboclos nas sessões de
Umbanda. Usam de canções antigas, que expressam o trabalho com o
gado e a vida simples das fazendas, nos ensinando a força que o
trabalho tem e passando, como ensinamento, que o principal elemento
da sua magia é a força de vontade, fazendo assim que consigamos uma
vida melhor e farta. Nos seus trabalhos usam de velas, pontos
riscados e rezas fortes para todos os fins. O Caboclo Boiadeiro traz
o seu sangue quente do sertão, e o cheiro de carne queimada pelo sol
das grandes caminhadas sempre tocando seu berrante para guiar o seu
gado. Normalmente, eles fazem duas festas por ano, uma no inicio e
outra no meio do ano. Eles são logo reconhecidos pela forma
diferente de dançar, tem uma coreografia intricada de passos rápidos
e ágeis, que mais parece um dançarino mímico, lidando bravamente
com os bois.
Seu dia é quinta feira, gosta de bebida forte
como por exemplo cachaça com mel de abelha, que eles chamam de
meladinha, mas também bebem vinho. Fumam cigarro, cigarro de palha e
charutos. Seu prato preferido é carne de boi com feijão tropeiro,
feito com feijão de corda ou feijão cavalo. Boiadeiro também gosta
muito de abóbora com farofa de torresmo. Em oferendas é sempre bom
colocar um pedaço de fumo de rolo e cigarro de palha. No Terreiro os
Boiadeiros vêm “descendo em seus aparelhos” como estivessem
laçando seu gado, dançando, bradando, enfim, criando seu ambiente
de trabalho e vibração. Com seus chicotes e laços vão quebrando
as energias negativas e descarregando os médiuns, o terreiro e as
pessoas da assistência. Os fortalecendo dentro da mediunidade,
abrindo as portas para a entrada dos outros guias e tornando-se
grandes protetores, assim como os Exus. Alguns usam chapéus de
boiadeiro, laços, jalecos de couro, calças de bombachas, e tem
alguns, que até tocam berrantes em seus trabalhos. Nomes de alguns
boiadeiros: Boiadeiro da Jurema, Boiadeiro do Lajedo, Boiadeiro do
Rio, Carreiro, Boiadeiro do Ingá, Boiadeiro Navizala, Boiadeiro de
Imbaúba, João Boiadeiro, Boiadeiro Chapéu de Couro, Boiadeiro
Juremá, Zé Mineiro, Boiadeiro do Chapadão, etc …
Os Boiadeiros são entidades que representam a
natureza desbravadora, romântica, simples e persistente do homem do
sertão, “o caboclo sertanejo”. São os Vaqueiros, Boiadeiros,
Laçadores, Peões, Tocadores de Viola. O mestiço Brasileiro, filho
de branco com índio, índio com negro e assim vai. Os Boiadeiros
representam a própria essência da miscigenação do povo
brasileiro: nossos costumes, crendices, superstições e fé. Ao
amanhecer o dia, o Boiadeiro arrumava seu cavalo e levava seu gado
para o pasto, somente voltava com o cair da tarde, trazendo o gado de
volta para o curral. Nas caminhadas tocava seu berrante e sua viola
cantando sempre uma modinha para sua amada, que ficava na janela do
sobrado, pois os grandes donos das fazendas não permitiam a mistura
de empregados com a patroa. É tal e qual se poderia presenciar do
homem rude do campo. Durante o dia debaixo do calor intenso do sol
ele segue, tocando a boiada, marcando seu gados e território. À
noite ao voltar para casa, o churrasco com os amigos e a família, um
bom papo, ponteado por um gole de aguardente e um bom palheiro, e nas
festas muita alegria, nas danças e comemorações. Sofreram
preconceitos, como os “sem raça”, sem definição de sua origem.
Ganhando a terra do sertão com seu trabalho e luta, mas respeitando
a natureza e aprendendo, um pouco com o índio: suas ervas, plantas e
curas; e um pouco do negro: seus Orixás, mirongas e feitiços; e um
pouco do branco: sua religião (posteriormente misturada com a do
índio e a do negro) e sua língua, entre outras coisas.
Dá mesma maneira que os Pretos-Velhos representam
a humildade, os Boiadeiros representam a força de vontade, a
liberdade e a determinação que existe no homem do campo e a sua
necessidade de conviver com a natureza e os animais, sempre de
maneira simples, mas com uma força e fé muito grande. O caboclo
boiadeiro está ligado com a imagem do peão boiadeiro –
habilidoso, valente e de muita força física. Vem sempre gritando e
agitando os braços como se possuísse na mão, um laço laço para
laçar um novilho. Sua dança simboliza o peão sobre o cavalo a
andar nas pastagens. Enquanto os “caboclos índios” são quase
sempre sisudos e de poucas palavras, é possível encontrar alguns
boiadeiros sorridentes e conversadores. Os Boiadeiros vêm dentro da
linha de Oxosse. Mas também são regidos por Iansã, tendo recebido
da mesma a autoridade de conduzir os eguns da mesma forma que
conduziam sua boiada quando encarnados. Levam cada boi (espírito)
para seu destino, e trazem os bois que se desgarram (obsessores,
quiumbas, etc.) de volta ao caminho do resto da boiada (o caminho do
bem).
Sobre Nossos Caboclos Boiadeiros
Os Caboclos são entidades fortes, viris. Alguns
têm algumas dificuldades de se expressar em nossa língua, sendo
normalmente auxiliados pelos cambonos. São sérios, mas gostam de
festas e fartura. Gostam de música, cantam toadas que falam em seus
bois e suas andanças por essas terras de meu Deus. Os Boiadeiros
também são conhecidos como “Encantados”,pois segundo algumas
lendas, eles não teriam morrido para se espiritualizarem, mas sim se
encantados e transformados em entidades especiais. Os Boiadeiros
também apresentam bastante diversidade de manifestações. Boiadeiro
menino, Boiadeiro da Campina, Boiadeiro Bugre e muitos outros tipos
de Boiadeiros, sendo que alguns até trabalham muito próximos aos
Exus. Suas cantigas normalmente são muito alegres, tocadas num ritmo
gostoso e vibrante. São grandes trabalhadores, e defendem a todos
das influências negativas com muita garra e força espiritual.
Possuem enorme poder espiritual e grande autoridade sobre os
espíritos menos evoluídos, sendo tais espíritos subjugados por
eles com muita facilidade. Sabem que a prática da caridade os levará
a evolução, trabalham incorporados na Umbanda, Quimbanda e
Candomblé. Fazem parte da linha de caboclos, mais na verdade são
bem diferentes em suas funções. Formam uma linha mais recente de
espíritos, pois já viveram mais com a modernidade do que os
caboclos, que foram povos primitivos. Esses espíritos já conviveram
em sua ultima encarnação com a invenção da roda, do ferro, das
armas de fogo e com a prática dada magia na terra. Saber que
boiadeiros conheceram e utilizaram essas invenções nos ajuda muito
para diferenciarmos dos caboclos. São rudes nas suas incorporações,
com gestos velozes e pouco harmoniosos. Sua maior finalidade não é
a consulta como os Pretos-velhos, nem os passes e muito menos as
receitas de remédios como os caboclos, e sim o “dispersar de
energia” aderida a corpos, paredes e objetos. É de extrema
importância essa função pois enquanto os outros guias podem se
preocupar com o teor das consultas e dos passes, existe essa linha
“sempre” atenta a qualquer alteração de energia local (entrada
de espíritos). Quando bradam alto e rápido, com tom de ordem, estão
na verdade ordenando a espíritos que entraram no local a se retirar,
assim “limpam” o ambiente para que a prática da caridade
continue sem alterações. Esses espíritos atendem aos boiadeiros
pela demonstração de coragem que os mesmos lhes passam e são
levados por eles para locais próprios de doutrina. Em grande parte,
o trabalho dos Boiadeiros ”e no descarrego e no preparo dos
médiuns. Outra grande função de um boiadeiro é manter a
disciplina das pessoas dentro de um terreiro, sejam elas médiuns da
casa ou consulentes. Costumam proteger demais seus médiuns nas
situações perigosas. São verdadeiros conselheiros e castigam quem
prejudica um médium que ele goste. “Gostar” para um boiadeiro, é
ver no seu médium coragem, lealdade e honestidade, aí sim é
considerado por ele “filho”. Pois ser filho de boiadeiro não é
só tê-lo na coroa. Trabalham também para Orixás, mais mesmo
assim, não mudam sua finalidade de trabalho e são muito parecidos
na sua forma de incorporar e falar, ou seja, um boiadeiro que
trabalhe para Ogum é praticamente igual a um que trabalhe para
Xangô, apenas cumprem ordens de Orixás diferentes, não absorvendo
no entanto as características deles. Dentro dessa linha a
diversidade encontra-se na idade dos boiadeiros. Existem boiadeiros
mais velhos, outros mais novos, e costumam dizer que pertencem a
locais diferentes, como regiões, por exemplo: Nordeste, Sul,
Centro-Oeste, etc… Os Boiadeiros representam a própria essência
da miscigenação do povo brasileiro: nossos costumes, crendices,
superstições e fé.