Perigos na Mediunidade: O Milagre


Existem alguns perigos reais que circulam a vida espiritual de um médium de Umbanda. Por si só, um médium carrega dons mediúnicos, e quando falamos em dons mediúnicos, não estamos falando apenas de incorporação ou psicofonia. Porém neste texto, iremos nos limitar a comentar sobre essa mediunidade tão presente em nossa religião, sendo um pilar importante de contato com nossos guias, mestres e mentores, porém se mal entendida e internalizada pelo médium, vira uma faca de dois gumes.
Você pode se perguntar: “Como pode existir um perigo mediúnico dentro de um Templo de Umbanda que é consagrado pelo poder dos Orixás, pela forças dos guias e em nome de Deus?”
A resposta é: “Nós somos o perigo real.” Não são os guias, nem os Orixás e sim sentimentos ilusórios, perturbadores, inseguros que vibramos no decorrer de nossa caminhada mediúnica. Um dos maiores perigos que podemos encontrar hoje em dia, que afeta a mediunidade de muitos é o famoso MILAGRE. Explico.
O milagre acontece em todas as religiões. O milagre é uma presença divina atuando em nossas vidas, realizando ações impossíveis para a compressão humana, e dentro de um Templo de Umbanda, acontecem milagres, sim!
É interessante o médium saber que por intermédio de seu guia espiritual foi realizado uma cura, uma ajuda muito grande na vida de uma pessoa? Essa resposta depende muito da maturidade do médium. Vamos a um exemplo:
Um médium chamado Fulano, é dedicado a sua religião e ao seu terreiro, ele faz seus preceitos, suas orações tenta ao máximo ser sincero com sua mediunidade e com suas limitações, possui uma abertura e uma passividade na hora da incorporação muito boa, no qual lhe dá a permissão de trabalhar nas giras abertas do terreiro. Fulano, sempre concentrado, chega mais cedo, bate cabeça, põem suas guias/colares e em silêncio fica esperando a hora de começar a gira. Porém depois de alguns meses de trabalho, chega a seu ouvido que seu Caboclo curou um Câncer de uma pessoa que estava em um estágio da doença muito avançado. Fulano, fica feliz, agradece a seu guia e aos seus Orixás, mas algo dentro dele mudou.
Com o passar dos dias, Fulano aparece no terreiro com um braja (não mais as guias/colares simples que usava segundo a orientação do seu Caboclo), não faz mais suas orações e o silêncio e a concentração não fazem mais parte da sua preparação pré gira.
Seu “Caboclo” quando incorpora, não mais usa sua “simples” vela verde, agora usa 7 velas verdes, 3 vermelhas e uma branca. Não mais utiliza as ervas e sim um maracá e uma flecha que comprou a pouco tempo em uma feirinha. Seu ponto riscado mudou, agora é “mais elaborado”.
Seu “Caboclo” avisa ao cambone que a partir de agora, NECESSITA usar um cocar com 7 cores diferentes, com penas especiais.
De repente, o Caboclo tão realizador, começar a nem dar passes energéticos direito. Não “sabe” mais dar conselhos positivos as pessoas. Só sabe dar receitas e concelhos pré prontos.
O Fulano, começa a desanimar, pois seu “Caboclo” não faz mais milagres, e onde já se viu um Caboclo não fazer milagres? Fulano desanima tanto, que muda de terreiro, pois acredita que o Templo está com algo errado, e isso só se “confirmou”, pois em sua mente o “Caboclo” disse que aquele terreiro estava negativado.
Com o tempo, fulano, pula de terreiro em terreiro, e nada mais o satisfaz. Nada o preenche. E com o tempo, ele sai da Umbanda.
Esse pequeno relato acima, mostra de uma forma simples, o que acontece com muitos médiuns de Umbanda, pois mesmo sendo dedicado, honesto e de bom coração, sempre estamos abertos a vibrar sentimentos que podem puxar nosso tapete. O Ego, a vaidade são inimigas mortais de um médium de Umbanda, e dessa união nasce a ilusão!
Quando o médium entra na ilusão, tudo muda a volta dele e dentro dele, e só ele não percebe, pois a ilusão te preenche de vazio, e quando é percebida, já existe “buraco” dentro da pessoa.
É importante frisar que o milagre, a cura é algo que acontece em todos os templos de Umbanda e sempre vai acontecer, pois somos amparados por Deus e os Orixás, porém a informação de que “seu” GUIA ESPIRITUAL curou alguém, não deve ser algo de importante na sua vida. Pois se essa informação é vital para sua vida, ou para você acreditar mais na Umbanda, você está no caminho errado.
Silenciar e desprender são chaves de acesso ao sagrado de qualquer religião. Um bom médium deve sempre ter isso em mente! Somos trabalhadores de Umbanda e não santos!
Sinta e viva sua espiritualidade com muito bom senso e acima de tudo amor, não com medo ou por obrigação!

por Nikolas Peripolli

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